Parnaíba e Barra Grande: duas faces da mesma elitização
O que Barra Grande vive hoje — com praias privatizadas na prática, pousadas inacessíveis aos moradores locais e um turismo gourmetizado que exclui — Parnaíba já começa a sentir, ainda que de maneira mais discreta, porém não menos preocupante.
A elitização em Barra Grande é explícita: o que antes era uma vila de pescadores acolhedora e simples, tornou-se um refúgio caro, reservado a turistas de alto poder aquisitivo. Os nativos, hoje, ocupam os bastidores: são a força de trabalho invisível que sustenta o luxo alheio, mas que já não desfruta da própria terra com liberdade. A areia da praia continua pública, mas os olhares e os preços a tornaram território estrangeiro aos locais.
Parnaíba caminha na mesma trilha, ainda que mascarada por um discurso de desenvolvimento. A cidade cresce, sim, mas cresce de forma desigual. Empreendimentos de luxo surgem à margem de bairros que seguem sem saneamento básico. Cafeterias modernas e clínicas exclusivas despontam ao lado de comunidades onde o transporte público ainda é precário e a segurança, uma promessa antiga.
Os símbolos do progresso convivem com a negligência estrutural — e isso não é acidental, é projeto. A concentração de investimentos em áreas "valorizadas" reforça o abismo social. Não há políticas efetivas de inclusão que façam o crescimento da cidade alcançar as periferias.
O mais cruel é o discurso: em Parnaíba, como em Barra Grande, tenta-se vender a ideia de que o crescimento é para todos. Mas todos quem? Para o trabalhador comum, resta o papel de expectador de um espetáculo do qual não participa. A cidade se moderniza para poucos — e os muitos continuam à margem.
Se não houver um freio, um plano que coloque o povo no centro da urbanização e da economia, Parnaíba seguirá o mesmo destino de Barra Grande: um cartão-postal bonito, mas onde os de casa assistem da calçada.
