A mão do município SEMPRE pesa contra os trabalhadores mais pobres

 


A imagem é rotineira, mas não por isso menos revoltante: trabalhadores ambulantes, empurrando carrinhos de mão, têm suas mercadorias apreendidas por fiscais da Prefeitura de Parnaíba. Temperos, frutas e verduras — o sustento do dia — levados como se fossem contrabando. A abordagem, registrada em vídeo e divulgada nas redes sociais, mostra agentes da Vigilância Sanitária e da Guarda Civil Municipal agindo com firmeza e frieza diante de quem só quer trabalhar. A frase de um dos ambulantes resume o absurdo: "Eu preciso trabalhar".


O rigor da fiscalização, que deveria ser instrumento de equilíbrio e justiça social, se converte aqui em um mecanismo de exclusão. A “ordem” que se quer impor no centro da cidade ignora completamente a realidade de desemprego, fome e abandono em que vivem milhares de brasileiros. A força do Estado não aparece para garantir o mínimo, mas para tirar o pouco que o trabalhador já tem. Contra quem carrega frutas no carrinho de mão, a resposta é dura, imediata, inflexível. Contra os grandes sonegadores, os políticos corruptos e os empresários que exploram mão de obra, a resposta é silêncio, conchavo, impunidade.


A prefeitura age como se manter o centro “limpo” fosse mais importante do que permitir a sobrevivência. Mas limpeza para quem? Para os turistas que passam? Para a classe média que acha feio ver pobreza na calçada? O trabalhador informal não escolheu estar nessa situação. Ele está ali porque o Estado não lhe deu alternativa. E quando tenta criar uma alternativa com as próprias mãos, ainda é punido.


Os R$ 150 de prejuízo citados por um dos ambulantes não são só um número. Representam o jantar de uma família, a parcela do aluguel, a dívida com o fornecedor. E mais: representam o abismo entre o discurso e a prática dos que deveriam proteger a população mais vulnerável. A punição de quem trabalha informalmente não é “zelar pela ordem”; é institucionalizar a desigualdade. É criminalizar a pobreza.


Enquanto isso, os reais responsáveis pela desordem social — os que lucram com o caos — continuam ilesos, sem nunca sentir o peso da mesma autoridade que se apressa em recolher frutas da mão de um pobre.


O que falta nas ruas não é ordem. É empatia, política pública e vergonha na cara dos que confundem autoridade com autoritarismo.

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