Rafael Fonteles erra cálculo do Estado e se envolve em polêmica

 


Quando se fala em um erro de cálculo milionário vindo de um matemático premiado internacionalmente, a história inevitavelmente ganha contornos mais simbólicos do que contábeis. O contrato firmado pelo Governo do Piauí com a empresa Integra Saúde Digital, no valor de R$ 379 milhões, para serviços de telemedicina, virou centro de uma polêmica que mistura números, política e falta de explicações claras.


A denúncia, publicada pela jornalista Andreza Matais no portal Metrópoles, aponta para um descompasso escandaloso entre os valores contratados e os valores que deveriam, em tese, ter sido calculados com base no número de habitantes do estado. Segundo o contrato, o valor para atendimento clínico geral seria de R$ 1,25 por habitante e R$ 2,75 para especialistas. Multiplicando pelos 3,2 milhões de piauienses, o total deveria girar em torno de R$ 13 milhões. Mas, de forma inexplicável, esses mesmos cálculos foram parar nos papéis como R$ 49,3 milhões e R$ 108 milhões, respectivamente. Resultado: o contrato mais do que dobrou, saltando de uma estimativa técnica de cerca de R$ 180 milhões para os atuais R$ 379 milhões.


O mais desconcertante? O governador Rafael Fonteles, além de economista, é matemático de formação. E não qualquer matemático: foi premiado em olimpíadas internacionais de matemática e formou-se pelo IMPA, um dos institutos mais respeitados do mundo na área. O que, ironicamente, transforma o erro em manchete ainda mais incômoda. Um erro acidental? Um exagero intencional? Uma falha técnica de gabinete? Nada disso ainda foi explicado de forma clara e direta.


A resposta oficial do governo foi protocolar: o contrato foi legal, aprovado pelo Tribunal de Contas do Estado e já resultou em mais de 700 mil atendimentos por telemedicina em mais de mil Unidades Básicas de Saúde. Mas a legalidade, por si só, não explica a matemática falha. E o silêncio sobre a origem dos valores inchados apenas aprofunda a sensação de opacidade.


Há ainda o componente político: o contrato é financiado com verbas do SUS, o que eleva a discussão ao nível nacional. Dinheiro federal, executado por um estado, com erro grave de cálculo — isso exige respostas que ainda não vieram. Não basta dizer que foi aprovado pelo TCE; é preciso explicar de onde vieram os números errados. Porque o dinheiro é público, a saúde é pública e, agora, a dúvida também.


O caso expõe mais que uma falha em um contrato: revela como, mesmo com currículo técnico invejável, governos podem tropeçar no básico — e como o poder público continua refém de documentos pouco transparentes e números que não batem. Matemática não é só ciência exata. Quando envolve dinheiro público, é também exercício de responsabilidade.


E no momento, infelizmente, a conta não fecha.

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