E o lixão de Parnaíba?

 


Parnaíba carrega há décadas a ferida aberta do lixão, um espaço que expõe diariamente não apenas o descaso ambiental, mas sobretudo a negligência social. A recente promessa de desativação e de implantação de um aterro sanitário renova expectativas, porém também desperta a memória das obras anunciadas e nunca realizadas, como o piscinão que permanece apenas no imaginário coletivo. A dúvida é inevitável: até que ponto a atual iniciativa representa uma virada de página ou apenas mais um capítulo de promessas recicladas?


Em julho de 2025, o prefeito Francisco Emanuel afirmou estar conduzindo um plano de ação para desativar o lixão,



incluindo a criação de uma força-tarefa, apoio à cooperativa de catadores (acompanhado de acolhimento social), e o desenvolvimento de um novo aterro sanitário que atenda às exigências legais e ambientais .



O debate costuma girar em torno da destinação dos resíduos, dos custos elevados e da necessidade de atender às exigências legais. Mas há um aspecto silenciado que clama por centralidade: as pessoas que vivem do lixão. Homens, mulheres e crianças que retiram dali sua sobrevivência são frequentemente tratados como detalhe incômodo, quando na verdade representam a face mais crua da desigualdade. Falar em fechar o lixão sem discutir o destino humano dessas famílias é trocar de cenário sem alterar o enredo.


Uma política de resíduos sólidos que ignore a dimensão social não é política, é maquiagem. O encerramento do lixão será um avanço apenas se vier acompanhado de inclusão, de alternativas produtivas e de dignidade para aqueles que foram historicamente empurrados para a margem. O lixo precisa de um fim, mas as vidas precisam de um começo.


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