Retrato da violência: ser negro, trans ou homossexual no Piauí ainda é viver em risco
No Piauí a realidade se mostra alarmante. Um recente boletim da Secretaria de Segurança Pública do Estado, elaborado em parceria com a Universidade Estadual do Piauí, reúne dados que revelam o impacto desproporcional da violência sobre a população LGBTQIAPN+, especialmente indivíduos negros, trans e homossexuais.
Entre os 958 incidentes registrados em 2024 envolvendo 808 vítimas, a maioria ocorreu em bairros periféricos de Teresina como Centro, Cabral e Vermelha, mas também em cidades como Parnaíba, Campo Maior, Piripiri e Miguel Alves. Os crimes mais frequentes foram estelionato, ameaça e furto, mas não são apenas casos de desonestidade ou intimidação. Houve ao menos dois homicídios e quatro feminicídios, um transfeminicídio e três lesbofeminicídios. Isso faz com que a estatística não fique fria e impessoal, mas carregada de vidas, histórias e corpos interrompidos.
Ao olhar para o perfil das vítimas, o boletim revela que cerca de 73,3 por cento se autodeclarou preta ou parda. A faixa etária mais afetada abrange dos 21 aos 40 anos, com média na casa dos 32, e pico na faixa dos 26 aos 30. Na orientação sexual, 78 por cento se identificou como homossexual, 44 por cento desses eram homens gays, e 73,9 por cento dizia não ter parceiro. Além disso 38,9 por cento das vítimas tinham até o ensino médio completo.
Apesar da intensidade da violência, as formas pelas quais ela atinge diferentes identidades variam. Transexuais e travestis estão expostas com maior frequência a agressões físicas e ameaças diretas, enquanto lésbicas, gays e bissexuais sofrem de modo mais recorrente crimes contra a honra, ataques virtuais, injúrias, difamações e invasões de privacidade online.
O panorama traçado não é apenas estatístico. Ele traduz um padrão: a violência se repete, se concentra, é geograficamente previsível. Teresina lidera com 512 dos casos, e os mesmos bairros se repetem nos registros de agressões. Isso exige que se escute cada dado como um pedido urgente de mudança.
Mais do que alarmante o boletim conclama à responsabilidade: das autoridades, da sociedade civil, de todas as instituições. É preciso implementar políticas públicas que garantam segurança, acolhimento e justiça para essas populações. O boletim não é apenas um registro de violência. Ele carrega vozes que pedem dignidade e existem com urgência. A luta é grande, o boletim é um passo necessário, mas ninguém duvida de que ainda há muito caminho a percorrer.
