Setembro Amarelo: o Piauí grita em números de suicídio
Setembro amarelo chega todos os anos como aquele lembrete colorido de que precisamos falar sobre suicídio. As redes sociais se enchem de frases prontas, as empresas pintam logos de amarelo e todo mundo finge, por um instante, que a saúde mental está no centro da mesa. Só que não está. O paradoxo é cruel: precisamos, sim, de campanhas como essa, porque ainda é tabu, ainda existe silêncio e ainda há quem prefira esconder o problema. Mas, ao mesmo tempo, a forma como o setembro amarelo é tratado escancara uma hipocrisia coletiva.
Ao contrário do colorido e das frases feitas que inundam o mês de setembro, os números no Piauí não dão espaço para celebrações. Em 2024, o estado registrou 388 suicídios, contra 334 em 2023, um crescimento de 16,17% em apenas um ano. Isso significa que, a cada semana, em média, quase oito piauienses tiraram a própria vida.
A taxa de 11,49 mortes por 100 mil habitantes coloca o Piauí como o terceiro estado com mais suicídios proporcionais no Brasil, atrás apenas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. No Nordeste, lidera isolado, muito acima da média nacional, que gira em torno de 6,7 por 100 mil habitantes.
O recorte por gênero também é cruel:
Homens: saltaram de 271 casos em 2023 para 302 em 2024, uma alta de 11,43%.
Mulheres: o crescimento foi ainda mais alarmante, de 63 para 83 casos, um aumento de 31,75% em apenas um ano.
Durante 30 dias, nos mobilizamos em torno de hashtags e eventos simbólicos, mas no resto do ano seguimos com jornadas de trabalho desumanas, com sistemas de saúde precários, escolas despreparadas, famílias que não sabem ouvir e uma sociedade que ainda olha para o sofrimento psíquico como fraqueza. É como se estivéssemos mais preocupados em colorir o calendário do que em enfrentar o que adoece tanta gente.
Falar de suicídio não pode ser só em setembro, nem com frases de efeito. Exige política pública, exige acolhimento real, exige questionar a lógica que empurra milhões para a beira do abismo: desigualdade, solidão, violência, pressão social e econômica. Enquanto isso não muda, o setembro amarelo seguirá sendo ao mesmo tempo necessário, e profundamente insuficiente.
