Sociedade piauiense agora discute se Penélope traiu ou não traiu

 


Em vez da gente estar falando da violência brutal, do feminicídio que ceifou a vida da Penélope, mulher que chefiava a Guarda Civil, mãe, filha, vizinha, gente que ajudava até quem não conhecia, a conversa tomou outro rumo. Muita gente se perdeu falando se ela traía ou não, como se isso fosse justificativa. Pois não é. O professor de Direito, amigo do casal, deixou bem claro: nada justifica. E ela não traiu o acusado.


E olha como isso reflete um machismo enraizado. Desde sempre a mulher é colocada no centro da culpa, como se fosse necessário provar que foi “boa” pra merecer viver em paz. Mas o problema não está nela. Está num sistema que enquadra o fim de relacionamento ou uma suspeita de traição como motivo válido para violência, como se o homem tivesse direito de punir. O caso do suspeito, ex-companheiro de Penélope, se encaixa num padrão clássico: descobriu suposta traição, surtou, matou. E, pra muita gente, “ué, mas não era ela que tava errada?”, como se assassinato passasse a fazer sentido.


A sociedade patriarcal está justamente aí: perdoa traição masculina, silencia agressão, e muitas vezes culpa a vítima. No Brasil, o feminicídio mata 4 mulheres por dia e o óbvio “ela que provocou”, “ela que mereceu”, ainda circula. E a justiça? Mesmo quando demonstra o óbvio, como o professor dizendo “ela não traiu e nada justifica”, parece que era mais fácil passar pano e jogar a discussão pra lá. Essa inversão de foco é machista porque o debate não deveria existir. O crime brutal foi que ela foi morta pelo ex.


A real pergunta que tem que estar na roda é: o que a gente vai fazer pra derrubar isso? Educação afetiva, leis aplicando na prática (não só no papel), responsabilização real. E, sim, trabalhar pra que uma mulher pare de ser vista como propriedade a que a traição “legitima” o pior. Um caso como esse não deveria se resumir a “mas ela traiu?”. Deveria ser uma convocação pra mudança: parar de colocar a vítima na berlinda, defender que nenhum tipo de violência contra mulher é justificável, e honrar quem fez tanto por todo mundo, porque a Penélope era isso, alguém que virava problema de gente e segurava.

Popular Posts

Advogado e presidente do Ferroviário Esporte clube de Parnaíba é condenado a 4 anos de prisão

O fotógrafo de Parnaíba que transformou o cotidiano em viagem

Lixão de Parnaíba: onde o silêncio da prefeitura fede mais que o próprio lixo