Justiça do Piauí, uma verdadeira mãe
Se a Justiça fosse uma mãe, talvez quisesse ser vista como justa, firme e protetora. Mas no Piauí ela parece mais aquela mãe que passa a mão na cabeça do filho rico e dá chinelada no pobre. Os últimos casos mostram uma Justiça carinhosa, compreensiva e de coração mole, desde que o berço seja confortável.
Caso 1: Chineses e as duas toneladas de barbatanas
Dois chineses foram flagrados em Parnaíba com quase duas toneladas de barbatanas de tubarão e seis quilos de cavalos-marinhos. Crime ambiental grave, que destrói ecossistemas inteiros. Ainda assim, a Justiça Federal decidiu soltá-los. Liberdade provisória, entrega de passaporte, umas restrições e pronto.
Segundo a decisão, não havia risco suficiente para mantê-los presos. Traduzindo: duas toneladas de crime ambiental pesam menos que a “ausência de perigo”. A Justiça, sempre maternal, achou melhor não traumatizar os rapazes.
Caso 2: vereador valentão, mais um que vai se safar
O vereador de Bom Princípio do Piauí, que também é dono de loja de veículos, José Carlos Machado Pereira Júnior, conhecido como “Júnior da Noelia” (PSB), foi denunciado por agressão e ameaça nesta terça-feira (7). O caso foi registrado pelo delegado Ayslan Magalhães de Brito e classificado, inicialmente, como ameaça e dano.
Caso 3: Médico e empresário solto após investigação
O médico e empresário Bruno Santos foi preso na Operação OMNI, que investiga corrupção e contratos superfaturados na saúde do estado. Poucos dias depois, o Tribunal mandou soltá-lo. A justificativa foi falta de fundamentação para manter a prisão.
Em nota, ele afirmou que nunca teve apoio político e que tudo o que conquistou foi fruto de trabalho. A Justiça, compreensiva, acreditou.
A mãe seletiva
Em todos os casos, o padrão se repete. Prisões revogadas, liberdade provisória, medidas cautelares que cabem num papel de ofício. Para quem tem dinheiro, advogado influente e currículo vistoso, a Justiça se mostra paciente, calma e até carinhosa.
É uma mãe que abraça o empresário, o médico e o estrangeiro. Mas para o jardineiro morto, o meio ambiente devastado e o cidadão comum, não há abraço, nem consolo. Só silêncio.
A Justiça, no Piauí, parece cada vez menos cega e cada vez mais maternal. Só que é uma mãe com filhos preferidos.
