Ciro Nogueira em mais um escândalo: máfia dos postos com PCC
Em um palco onde a política e o crime organizado se entrelaçam com preocupante naturalidade, desvela-se mais um capítulo emblemático da mistura entre poder formal e operações financeiras duvidosas. A empresa ligada ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) recebeu R$ 63,9 mil de um posto de combustíveis em Teresina que é alvo da Operação Carbono Oculto 86, desdobramento no Piauí da investigação sobre lavagem de dinheiro ligada à facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
As transferências foram efetuadas em 2 de maio (R$ 47,9 mil) e 17 de abril (R$ 15,9 mil) de 2025, via conta da fintech BK Instituição de Pagamento (BK Bank), instituição já apontada como central em esquemas de lavagem da facção paulista.
Esse fato não é um detalhe isolado, mas sim um elo sintomático entre a engrenagem pública e privada e a rede financeira que sustenta o crime organizado. A rede de postos de combustíveis, adquirida em dezembro de 2023 pela Pima Energia Participações, apresenta indícios claros de estrutura montada para formalizar operações de fachada: foi constituída apenas seis dias antes da aquisição, o que levanta o famoso “por que tanto atropelo?” das investigações.
Mais ainda, os antigos donos dos Postos HD, alvo da operação, tinham ligação com os mesmos esquemas que circulavam pela Faria Lima, em São Paulo, com a BK como pivô.
Quando o irmão do senador, Raimundo Nogueira, aparece como sócio de empresa que compartilhou endereço com o posto investigado e que realizou pagamentos de R$ 25,1 mil entre dezembro de 2021 e maio de 2022, o cenário deixa de ser mera coincidência para se tornar provocação: se isso não acende luz amarela, qual deve acender?
E, ao se buscar explicação ou justificativa, o silêncio do senador, procurado e ainda sem resposta, funciona como verificação: na dúvida, a resposta oficial é o vácuo.
O que se espera de um sistema público, que deveria zelar pela integridade do erário e impedir que a política se torne fachada para lavagem e influência, é justamente transparência e rigor. Mas aqui vemos o oposto: estruturas recém-cruadas, fintechs envolvidas, movimentações atípicas, figuras públicas no centro. Não basta alegar coincidência ou justificar como “negócio particular”. Quando recursos públicos, poder político e canais do crime organizado convergem, estamos diante de situação que merece investigação profunda e resposta à altura.
Se a política brasileira quiser limpar seu entorno e não meramente dar satisfação aos fatos já públicos, é hora de tratar casos como este com a seriedade que exigem: não apenas fiscalizar pastas, mas desatar nós que prendem o erário ao crime e limpar os acessos que permitem a imposição de interesses privados sobre a coisa pública. Caso contrário, continuaremos assistindo a uma política que se financia da mesma lama que diz combater.
