Escala 6x1 que Parnaíba aprendeu a NÃO questionar

 


É curioso, e sociologicamente revelador, que em Parnaíba, cidade de juventude ativa e mercado de trabalho em expansão, o tema da jornada 6x1 (seis dias de trabalho para um de descanso) quase nunca apareça nas conversas públicas. Enquanto em outras regiões do país essa escala é pauta de debates, críticas e reivindicações, aqui ela se naturaliza, tornando-se parte do tecido invisível do cotidiano.


Há uma espécie de silêncio social consentido. O jovem parnaibano, muitas vezes em seu primeiro emprego, absorve a rotina exaustiva como se fosse uma etapa obrigatória da vida adulta, uma prova de resistência, não uma questão de direitos. Trabalha, cansa, volta para casa e recomeça. E entre uma jornada e outra, o debate se perde.


Esse fenômeno não é mero acaso. É o resultado de uma combinação complexa entre dependência econômica, baixa organização coletiva e uma tradição cultural de resignação. Em cidades onde as oportunidades são escassas, a crítica ao modelo de trabalho tende a ser confundida com ingratidão. Questionar o 6x1 soa, para muitos, como reclamar da sorte de “ter emprego”.


Enquanto isso, o custo humano se acumula em silêncios: corpos exaustos, mentes saturadas e vidas que se moldam a uma engrenagem produtiva que não dá espaço ao descanso real, nem ao pensamento crítico.


Parnaíba, que se mostra cada vez mais dinâmica no turismo e no comércio, ainda precisa descobrir que o desenvolvimento verdadeiro não se mede apenas em números de contratação, mas na qualidade do tempo e da dignidade que o trabalho oferece.


Talvez o problema não seja o 6x1 em si, mas o 6x1 sem voz, essa aceitação muda de que tudo é como tem que ser. Porque uma cidade cresce de fato quando aprende não só a produzir, mas também a questionar as condições do que produz.


E é aí que mora a urgência de Parnaíba, aprender a transformar o silêncio em pauta, e o cansaço em consciência.

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